segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O FIM DAS OUTRAS COISAS

O tempo...
quantas voltas dá sem ter inicio nem fim...
corre e não existe e faz com que tudo mude

O tempo é uma maçã agora verde agora vermelha ora castanha e depois caída...

A cara do velho que era novo e será terra

O tempo é tudo isso e nada é...

Um daqueles mitos que se vê nos rostos e nos frutos, que anula a importância das acções, mata o vulgo e aumenta os Deuses sacudindo-lhes o pó...

Não tenho de escrever sobre o tempo nem sobre nada, e, todos nada olham a não ser um mundo infalível, cheio de certezas, certo
um mundo por cima de um outro, um bâton que tapa as brechas dos lábios...

Que será de mim?
Eu que não me espanto com o bâton que os lábios tapa, que não bebe surpresas súbitas nem fugiu ao trivial...
Não sinto o trivial.
Que doença me assola tão fria como qualquer gelo que tudo conserva estático...
Bebo tempo, vivo tempo, sinto tempo e não o vejo...

Para mim o mundo...
Para mim o mundo é um tempo
um tempo que em breve envelhecerá o rosto, amadurecerá o maçã para que depois passe sem despedidas deixando maçãs no chão e rostos no pó...

Alguém me dizia que a dor é a única coisa real...
Tal é então que não possa ser tudo real ?
Se sinto a dor, não sinto tudo o resto ?

A negação de um fenómeno que a nós ocorre constitui a definição de realidade?
Se assim é, que motivo temos para rir, para procurar felicidade?
Essa felicidade que a todos baba...

Só a dor é real...

Queremos e procuramos então o não real ? Queremos então o contrário do que sentimos ?
Como ?
Como poderei eu querer algo que me deforma o rosto e estala as entranhas ?

A realidade... essa tão ambígua palavra...
Ora bela, ora funesta, ora séria ora jocosa...

Uma coisa eu vos garanto: Meio mundo anda desejando que a realidade não fuja enquanto que a outra metade tenta fugir ao real procurando o sonho(ou vice-versa... paradoxo por decidir)

Tudo é um deserto...
Um deserto com semáforos e passadeiras alcatroadas
Um enorme vácuo linguisticamente interpretado de acordo com a sua melhor utilidade, um nada onde nos habituámos a pintar árvores e coisas... um poço cinzento que nunca conheceu água, negro e frio imprimindo em nós a convicção de que podemos sempre vislumbrar no seu fundo o reflexo da nossa cara, procurando assim a alma que (dizem) temos dentro...

Não rezem
Não preguem
Pode lá haver alguém que escute se nem mesmo nós a nós nos ouvimos...
Lancem ao chão as amarras que criastes, mudai o rumo dos ventos artificiais... Sê!
Escutai-me por um momento e sejam !
Vivos sem vós, que importa a realidade? sim, que importa a realidade se a todos foge e não permanece ?

Eu quero duas coisas:
voltar a voar um dia e sentir na pele e nos poros em tempo "real" o passar "real" do tempo que não é...
É isso que quero do mundo...
Da vida quero mais:
Suor dos outros corpos, vinho morto de parras mortas
Quero tragos de veneno, cuspir fogo, ser pior do que a minha escrita e viver como um grande ladrão, roubando almas...trocando o amor pela paixão...

Sim... eu admito... tudo isto desejo por inveja do bonito que os outros sentem... irritam-me os felizes sem copo que se embriagam com o êxtase do céu...
Não o sinto...sinto a sua antítese...aquilo que ninguém quer e deita fora ... aliás...não sinto sequer esse vento, esse festival de movimento lógico que a todos enche e em mim se vaza fora de prazo para consumo...

A angustia de morrer para mim torna-se quase tão grande como viver
Uma vida cuja preferência pela reflexão marginal expurgou de mim a alma conformadora para uma existência intelectualmente aceitável...
Morrer para mim não é acabar ... é deixar de viver... não durar... e esta subversão ao significado muda todo um curso de vida que à partida estaria orientada para o fim...

Não sou coerente nas as minhas palavras... mas que interessa isso? não sou escritor nem mesmo filosofo... não, não sou nada disso...
Sou um meio-homem que escolhe o papel para limpar as lágrimas...
Dói-me simplesmente a condição humana ou o desrespeito pela mesma...

O mundo acabou quando começou e a verdade é essa.

Gosto da loucura, é grande... transborda como uma sopa no caldeirão, deixa-se serenamente verter para la da margem...é bom ver o nu(no) a passear na rua.... QUEBRA-ME A ROTINA Ó FERNANDO!!!

Mais uma vez fui-me, fugi de mim neste preciso momento e deixei-me sentado em corpo na prateleira dos temperos...

Estes fragmentos que vomito são fruto de intermitências de um cérebro lesado, de um corpo maltratado que transporta nos olhos cansaço, pelo que, pouco liguem ao que aqui é dito e peço pois, que nada retenham pois para vós, mentes avidas de bom senso, de pouco servirá... quando muito poderiam utilizar tudo isto num momento cómico de segunda...

Que se foda... este sou eu quer goste quer não, e, como não me conhecerão em carne... que a taça se derrame...

Preto, branco, vitoria, derrota
tudo passa de um jorro só sem dar tempo ao tempo que tenho para perceber tudo o que passou...
Eu era o menino e a vida era era uma lata de atum num barreiro castanho num dia de chuva e casas cinzentas... ali cheirava a natal e as casas sorriam às cores das lâmpadas... eu era o rei, e o rei comandava os fantasmas e a si obedeciam...
...À tarde, bem perto da noite, o leite quentinho a lareira dos pés, a TV dos grandes e o sonho amarelo da minha mãe... Pai, chega depressa...
E tu ó forasteiro que mal chegaste partiste, arrancando à força metade do meu coração...
Que tenhas uma boa cruzada e que os ventos te sejam...

Não sei se parei na viagem ou se viajo sem cessar...tudo o que vejo sinto de passagem como uma margem que chega depressa... na parede deste quarto sinto o húmido camuflado, mas nada vejo, nada escuto... mas está lá...ó se está lá, esse húmido que gela os ossos e empresta as dores...

Enxaguo os olhos
Intermitências de um pecado
o roubo adiado e a vida do enforcado...

Que tenho ? Que não tenho ?
Perco-me por momentos num dentro de mim qualquer, visito-me em sítios que juraria não estarem lá, mas eis que me suga o abismo, enrola-me todo em metades ferozes...incapazes... e jorra-me para fora em bocados
bato no tecto, escapo à parede, tenho dois olhos e sou muitos retalhos
Espera... nada temas... o que precisas é de te apertar, cozer, atar, formar um facho
Procuro a corda, não está aqui, aqui também não, aqui estou eu ou um bocado de mim...corro...corro só com uma perna, a outra descansa ou cansa demasiado.... falta-te a sorte.

Ó corpo mutilado,virado, castrado... perdi-me ao achar-me e morro sem plano, consequência, forma estética por alcançar...
morro sem corda, dividido em muitos pelos cantos de um quarto...

Não!

Procura a corda, tem de haver uma corda!
Remexo dum lado(esquece o de um que perde o seu tempo), viro do outro, destapo no chão... Sinto um puxão(salvo a expressão mas tem reacção)!

Ali jaz o meu fim

A corda que me irá fazer a mim!
Ato-me, uno-me, completo-me de carne e fico preso e sinto-me a todos num só (redundância pura)...
Rio por dois minutos...
Mar por duas horas(sim gosto)...
Uno por uns tantos dias...
Quero mergulhar-me outra vez...
Delitos(tinha de ser) vão e vêem(seja, cometem-se em vários tempos), passam por nós e a sorte chama-nos criminosos ou homens bons, somos descritos conforme a sorte até que a morte nos tape os ouvidos e nos descanse para todo o sempre (sem prejuízo para os que duram)...


Se me querem da forma que sou posso dar-vos um conselho: deixem-me à chuva, ao sol, ao vento, ao tempo(esse maldito que tão bem nos faz)e esperem a mudança... serei vosso conforme a sorte, conforme a vontade fora de mim...

E não me venham falar em silencio pois que nada me dirão
Se falam em silencio
Todos calam
Quem fala em silencio
Olha o vácuo, perde a fala
Sente os tempos, o seu barulho
perde o rumo das coisas sãs
vivem do outro lado da voz
nesse silencio
Não me falem em silencio
Não sei ler olhos e os gestos são precários para tanto de alma
Morte
Silencio
Língua..., ..., ..., ...


Continuam a exercitar-se na arte de rir, olhando o próximo ou o seu par como exemplo a seguir... sim é bom sermos iguais, parecidos com os demais, é verdadeiro e bom sentir a companhia dos acompanhados...
A solidão é uma doença contagiosa(irónico), infecciosa, faz doer e afasta as criancinhas...

Ser só não é ser gente
é ser o seu contrario
demente fora da vida ...
A solidão é um preço alto no mercado negro, um veneno sem antídoto...
Ser só é ter bebido o veneno e não ter perecido (ou comprar no mercado paralelo e ter sido enganado)...

Ser só é solidão
é ser espera eternamente adiada nas urgências amarelas de um hospital qualquer...
As árvores, carregadas, graves, decidem formalmente o meu destino, enquanto eu, espero só... assistindo à passagem dos dias e à idade das pessoas menos doentes.



Dédalo

1 comentário:

Anónimo disse...

Sem palavras, texto magnifico. Remato só com uma maxima latina que adoro: "tempus edax rerum" (o tempo tudo destrói).

Tempo... sempre contra nós, nunca por nós.

Grande abraço!